Anjo

Noite não dormida, respirar ansioso de quem vai à procura de um Anjo…verdadeiro, especial, o meu…

Madrugada

Cedo, coração aos pulos, estômago apertado pela ansiedade, pensamento único na aventura que se avizinha…conhecer o meu anjo em figura humana…
Existirá?
Serei capaz de o encontrar?
Como será?
Será aquilo que imagino? Belo, pequeno, sensitivo?
Terá asas largas, lentas ou pequenas e vigorosas?
Falará a minha língua?
Terá no seu âmago dose de Amor igual à minha?
Amará?
Angustiante espera…
Horas porque não passais?

Finalmente manhã… Um dia pintado em tons de azul, vento suave a temperar o calor da época,
banho matinal intenso, água bem quente a temperar o corpo e a acalmar o espírito, relaxe finalmente…sem pressas, simplesmente a sentir magia, como que encantado por génio escondido algures, em parte alguma, mas presente, sentido.

Pequeno-almoço não digerido, tão só apressado, deglutido de uma só passagem…
mal estar, bem-estar, total confusão de sentimentos, que terrível força a atrapalhar os meus propósitos.

Conseguirei superar todos estes sintomas a tempo?
Que dose de produto excitante tomei?
Acaso terei doseado mal a prescrição?
Insuportável espera…

As horas! esqueci-me…
…o emprego, tinha que passar lá, tenho compromissos…

Que se dane; é tarde de mais, não tenho cabeça para mais nada por hoje, decidido…
não vou.

Antes de mais, compras.

Deambulando, fixando, comprando…

Um toque do meu telemóvel…o meu anjo?
Sim, ele mesmo…fala!
Sortudo, fala na mesma língua que a minha…doce a voz,
angélica, pois então…

Que me dizes?
Vamos almoçar?
Almoças comigo?
Que felicidade,

Pois sim, claro que sim, onde? Horas? Depressa…por favor não aguento mais…

Combinado, estarei à espera…

Fim de chamada,

Que loucura, que terna loucura,
Caminho em atmosfera sem gravidade,
levito…
que giras pessoas me envolvem…um sorriso para elas…
Amem-se por favor, sejam felizes…

Gorjeta?

Claro que sim, és bom vendedor…mereces a minha gorjeta…

E agora?
Flores?

Pois sim, bem lembrado,
Também adoro dar flores
E quais?
Rosas?
Adoro rosas…

Que dizem elas?
Vermelhas de Paixão incontida?
De Amor?

Seja,
Viva o Amor
Viva a esperança


Caminho, com lindas rosas no meu colo;
De um vermelho intenso, sanguíneo, vivo…tal qual o sentimento que me vai na alma…

Deposito-as no banco traseiro da minha viatura, afagadas por um abraço cuidadoso, inexperiente, mas ao mesmo tempo terno…

As horas passam céleres;

O almoço…

Atrasado, estou atrasado…como pode ser?
Só porque demorei a pensar, a ouvir, a ver, a…
Ahhh, sim…
pois claro, a sonhar acordado…

essa é a justificação.

Que se danem as justificações…
Rápido, pés a fundo e, voo para as asas do meu anjo;

Cheguei.

Tremo de ansiedade;
Onde estará o meu anjo?

Comunicações…ligo para o telemóvel,
Está?
Sim, olá…desculpa se incomodo, mas estou aqui na parte de fora à tua espera.
Queres saber como me encontras?

Fácil.

Procuras um menino bem comportado, desajeitado e ansioso e, tens aí o teu encontro.

Espero, sim espero…quanto tempo mais?
Quinze minutos?
Ok, pode ser…

Alívio;
Pensava eu estar atrasado!
E agora?
Cada vez mais nervoso;
olho o céu, vejo os pássaros a voarem, sinto a brisa ténue do vento, encho o peito das fragrâncias do jardim,

não aguento mais…demora ainda?

Finalmente toca o meu telemóvel.
Sim, é o meu anjo…
Loucura, o meu coração pula…estou perto dum colapso.
Onde estás?
Já aqui?
Onde? Não te vejo?

Da parte de fora do jardim?
Espera um pouco, por favor.

Correria, quem será, como será?
Anjo, meu doce anjo, onde estás tu?

Sim, já te vejo…
Beleza, que tamanha beleza desceu dos céus à terra!
Que bênção Divina me escolheu…
Porquê eu?

Claro!
Mereço,
Mereço muito;

Ah! Meu anjo, meu lindo,
doce anjo…
Agora és meu, este momento é só meu, mágico, espiritual e meu…de mais ninguém.

Magnificência,

Encontrei-te finalmente;
Posso falar?

Caramba, estou embasbacado, sem voz, sem fôlego sequer…
Ajudas-me?

Contente por me veres?
Sim?
Que bom.

Estou assombrado com a tua presença, és bem mais bela do que esperava.
Eu também?
Não brinques.

Sou um simples mortal sem jeito que por acaso te conheceu.
Por favor não me lisonjeies mais;
Fico sem saber responder…obrigado à mesma.

Bem e, agora?
Deixa-me olhar bem para ti.
Só um pouco, por favor…
Caramba, que sortudo eu me sinto.
Um anjo em figura de mulher, sensual, belo, terno, com voz e, a falar a minha língua…
Também não é difícil, pois não?

Linguagem de Amor, é sempre Universal e, eu falo essa linguagem.

Agora sim, vamos almoçar.

No meu carro, por favor, sinto-me mais à vontade;
Obrigado.

Vamos então.
Porque me olhas com essa atenção toda?

Cuidado que tenho que estar atento à estrada!
Podes olhar, mas não te desiludas, por favor…
Aiii, enganei-me no caminho;
Vês o que fazem os nervos?
Sim, estou nervoso…
A ansiedade deu lugar aos nervos,
E agora?
Para trás é o caminho;
Desculpa, é só mais um pouco…

… Finalmente chegámos.
Espera um pouco, não saias do carro ainda, por favor.

Deixa-me contemplar a tua beleza um momento a sós,
Obrigado, vamos agora?
Sim?
Então vamos.

Uma pequena lembrança, deste encontro…
Rosas vermelhas.
Gostas?
Sim?
De nada…é um prazer
Gostas mesmo?

Ainda bem.
Não agradeças, foi um prazer, está a ser um prazer.

Uma lembrança para mim, também?
Um livro?
Que extraordinário.
Obrigado, obrigado mesmo…como adivinhaste que gosto de ler?
Pois sim,
Que pergunta desnecessária,
És um anjo e, quem melhor do que os anjos para estas surpresas, não é?

Vamos então almoçar;
Desculpa, não consigo ter vontade de comer neste momento mágico, estou verdadeiramente sem fome, por motivos que só o coração consegue determinar.

Vá lá, ao menos tu…faz um esforço;
Almoça,
Eu só estou a olhar para ti.
Não falo, não te incomodo, olho só…

Porque me olhas também?
Não.
Não sou assim tão especial;
Sou só um louco apaixonado.

O momento dá para estas loucuras, perfeitas loucuras,
Sou um louco!
Porquê?

Porque vivo no mundo das ilusões.

Sonho com um mundo de paz;
Sonho com um mundo sem doenças;
Sonho com um mundo feito à nossa medida;

Medida do amor,
sem preconceitos,
sem rodeios,
sem tempo,
sonho dum amor infinito;
belo, ardente, corpóreo e espiritual…
Sonho contigo, afinal.

Almoçámos?
Pois sim, dá-me a tua mão, por favor.

Que felicidade poder sentir a tua pele;
Terno este toque, sensual este momento.

Entrelaçámos os nossos dedos, sem compromissos, mas com paixão;

Que sintomas tão estranhos me percorrem.
Sem fôlego, com o corpo a tremer, com a alma em transe,
Que me fazes?

Simplesmente com um só sentido me enlouqueces?
Melhor tomar um gole deste vinho.
Melhor almoçar de uma vez.

Trocámos olhares, almoçámos, falámos…
Falámos, olhámo-nos, amámo-nos.

Criado, por favor levante a mesa, acabámos o almoço.

Vamos?
Por onde, para onde?

Sempre em frente é o caminho? Certo…

Conduzo, em velocidade reduzida, sem conseguir prestar atenção à estrada.

Vejo só uma terna criatura a meu lado, que me dá a mão enquanto conduzo, que me encanta e seduz em todo o momento.

Estou sem jeito, não consigo abrir a boca, não falo…
Paralisei.
Só aproveito alguns sentidos.

Cheiro a fragrância dos céus,
Deleito-me com a visão,
Excito-me com o toque,
Mas, paraliso a fala…

Por onde vamos? Para onde vamos?
Paro o carro?

Ena, percorremos quilómetros e quilómetros sem sabermos para onde íamos.
Interessante, esta viagem.
Inconscientes, viajámos!

Onde estamos?
Numa praia,
sim estamos numa praia.
Deserta, mas que diacho!!

Claro, já é noite,
Nem nos apercebemos da sua chegada…
Explicado, então.

Melhor assim,
sem gente,
simplesmente a lua e as estrelas a enfeitar o céu,
dois corações a palpitar,
o teu e o meu.

As ondas estão pacificas, as rochas luzidias, brilham sob o manto irradiante do luar.
Respirámos uma brisa deliciosa, de maresia e de Amor.
Abraçámo-nos,
Beijamo-nos,
Amámo-nos perdidamente…
enlouquecidos,
numa revolta de paixão intensa, num fogo incandescente,
corpos desnudados,
roupas em abandono,
fazemos Amor incontido,
Amor sentido,
Amor ardente.
Deleite puro, sentimental,
Corpóreo, sensual.
Sem orientação
Sem conexão
Ofegante
Estimulante
Resultante e,
resultado
Destino, associado
Na mente inquietante
Vivente, nascente
Simplesmente, Paixão


Que apaixonante aventura, vivemos.

Tempo, alheia-te de nós;
Deixa os nossos corpos desnudados, sentirem o êxtase sem pressas
Retarda o disparo dos teus átomos,
Afasta de nós a inquietude dos pesadelos;
O sonho ainda está presente, belo, em exaustão final…

Afasta-te já disse…
Queres tomar parte deste momento?
Não, de maneira nenhuma;
Não o consinto,
Ficas de fora…
Podes roubar-me dez anos da minha vida, mas este é o meu momento;
Que ousadia,
Pensares que me podes impedir de ser feliz;
Jamais.
Viverei, zombarei da tua prepotência,
Morrerei, sim, morrerei,
mas este exacto tempo, recordarás como aquele em que faliste perante mim;

Nas asas do meu anjo, descanso…
O repouso merecido, de quem sente que cumpriu o destino.
O calor corpóreo, que emana, adormece-me lentamente;
A exaustão e a satisfação dão as mãos e acolhem-me nos seus retiros;
Por fim
O sono e os sonhos, ocupam o seu lugar, no éter da noite e, dois corpos entorpecidos, adormecidos, se fundem em um.